QUESTÕES SOBRE O LIVRO "O CORTIÇO" - TEXTO E GRAMÁTICA EM PAUTA

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

QUESTÕES SOBRE O LIVRO "O CORTIÇO"


Texto I
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”.
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...)”
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26 ed. São Paulo; Ática, 1994. (fragmento)

1.    Em O Cortiço, Aluísio Azevedo constrói uma narrativa extremamente relacionada a fatores externos.
a)    Transcreva, portanto, do texto I uma passagem a qual demonstre que Jerônimo, em decorrência da convivência com Rita Baiana, já não tinha mais os anseios de antigamente.

b)    Aponte três características que comprovam a mudança de personalidade de Jerônimo. 


2.    A transformação sofrida pelo português ocorreu de forma lenta e constante, reforçando a teoria determinista de que o homem é um produto do meio em que vive. Logo, retire do texto I um trecho que certifique cada item que segue.

a)    Início dessa transformação.
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b)    Trecho que comprove o decorrer do processo da mudança.
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c)    A consolidação da teoria do determinista.
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O texto II servirá de base para responder às questões 3 e 4.

E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer arbítrio. (...)
Quando deram fé, estavam amigados.
Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava institivamente o homem numa raça superior à sua.
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26 ed. São Paulo; Ática, 1994. (fragmento)


3.    Por esse trecho, análise as proposições que seguem e caracterize-as como (V), de verdadeiro ou (F), de falso.
(          ) Bertoleza padecia de um complexo de inferioridade.
(          ) João Romão não foi o primeiro português com quem Bertoleza se metera.
(          ) Os planos do taverneiro João Romão foram sendo traçados paulatinamente.
(          ) Era uma característica peculiar das cafuzas não querer se subjugar a negros.
(          ) Bertoleza optava por se relacionar com portugueses após ponderar as vantagens que teria. 


4.    A herança genética determina a preferência de Bertoleza por homens brancos, evidenciando, assim, seu comportamento como um dado científico. Explique essa afirmação tendo como referência as bases da literatura naturalista.

Texto III

E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanho do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha naquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita baiana e espalhavam-se pelo ar uma fosforescência afrodisíaca.
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26 ed. São Paulo; Ática, 1994. (fragmento)


5.    Traçando um paralelo entre esse trecho e as ideologias que permeiam a Escola Naturalista, coloque ( C ) para correto e ( I ) para incorreto.
(          ) A caracterização de Rita Baiana é feita por meio de metáforas.
(          ) A caracterização da personagem é feita somente por um prisma positivo.
(          ) Pelo fragmento, é possível perceber o domínio que Rita Baiana exercia sobre Jerônimo.
(          ) No trecho: “era o veneno e era o açúcar”, o autor também se vale de uma antítese em relação à personagem.
(          ) Em várias passagens do trecho, percebe-se o zoomorfismo na comparação da personagem com tipos animalescos.



Texto IV

Pode-se dizer que O Cortiço segue o figurino naturalista em duas linhas de exposição de comportamento humano. A trajetória de João Romão apresenta a visão naturalista das relações sociais, enquanto a de Jerônimo indica a perspectiva adotada pela escola no que diz respeito às relações pessoais. Nos dois casos, evidenciam-se patologias que definem os desvios morais das personagens.  
A ambição de João Romão não é condenada, afinal, ele apenas se aproveita das oportunidades oferecidas pela sociedade capitalista então nascente. Ocorre que, nele, a vontade de prosperar transforma-se em doença, em “febre de possuir”. Sua falta de escrúpulos é tamanha, que passa a explorar a companheira Bertoleza até o ponto da saturação, quando a troca por uma companhia que promete frutos mais lucrativos. 

6.    Muitas vezes, nas obras naturalistas, a ambição das personagens não é condenada, afinal, elas apenas se aproveitam das oportunidades oferecidas pela sociedade capitalista. A partir dessas perspectivas, responda aos itens que seguem.

a)    “A trajetória de João Romão apresenta a visão naturalista das relações sociais, enquanto a de Jerônimo indica a perspectiva adotada pela escola no que diz respeito às relações pessoais.” Explique esse trecho tendo por base os elementos motivadores do meio que acarretaram as transformações, respectivamente, de João Romão e de Jerônimo.



b)    Por que, no caso de João Romão, a ambição é patológica?


Texto V
Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia santo, não perdendo nunca a ocasião de assenhorear-se do alheio, deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas, comprando por dez réis de mel coado o que os escravos furtavam da casa dos seus senhores, apertando cada vez mais as próprias despesas, empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta de bois, João Romão veio afinal a comprar uma boa parte da bela pedreira, que ele, todos os dias, ao cair da tarde, assentado um instante à porta da venda, contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça.
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26 ed. São Paulo; Ática, 1994. (fragmento)

7.    Analise o trecho V, dentro dos preceitos da literatura naturalista, e marque com um ( X ) apenas os itens corretos.
(          ) João Romão não mediu esforços para conseguir o que queria, agindo, inclusive, de forma ilícita.
(          ) O Naturalismo, diferente das estéticas anteriores, faz da literatura um verdadeiro instrumento de análise social dos tipos humanos.
(          ) João Romão agia com ganância e ambição, despindo-se de qualquer conduta de caráter para conseguir seus objetivos.
(           ) “...contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça.” Por esse trecho, percebe-se que o personagem se arrepende do que fizera para enriquecer.

Texto VI
Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgicos dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes de música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor: música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar o gozo.
AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983. (fragmento).


8.    Transcreva do texto VI dois trechos os quais demonstrem que os personagens naturalistas não padeciam de livre-arbítrio, mas se deixavam envolver pela causalidade do momento.
Trecho 1 _______________________________________________________________
Trecho 2 _______________________________________________________________


Trecho VII

— É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam-na! É escrava minha!
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983. (fragmento).

9.    Comente esse episódio a partir do que fizera João Romão à Bertoleza.


10. Destaque do texto VII o trecho naturalista que comprova o processo de zoomorfização na composição dos personagens.


















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